“Cantar e Cuidar” deve se tornar um projeto permanente da instituição. A resposta dos pacientes à música e ao acolhimento da equipe de humanização tem sido imediata: com sorrisos, melhora no estado de humor e redução das crises de ansiedade.
Natália Oliveira
Quem nunca ouviu falar que a música cura? A Santa Casa de Resende acredita tanto na força da música que criou uma equipe de humanização, formada por um músico, uma psicóloga e uma assistente social, para levar um pouco de alegria aos pacientes internados na instituição. O projeto “Cantar e Cuidar” começou há cerca de um mês e tem como objetivo humanizar ainda mais o atendimento do hospital, aproximando os profissionais de saúde dos pacientes.
Um dos idealizadores do projeto é o músico Fábio Monteiro, que já fazia um trabalho parecido no Hospital Municipal de Emergência Henrique Sérgio Gregori, referência no tratamento da Covid-19. Segundo o músico, os pacientes internados se encontram em um estado de vulnerabilidade: fragilizados pelo adoecimento, afastados da rotina diária e longe da família. Com a pandemia e a redução das visitas, essas pessoas ficaram cada vez mais sozinhas nos hospitais, prejudicando a saúde mental delas e a própria vontade de lutar pela vida.
Fábio reforça que a iniciativa de levar música para os pacientes garante que eles tenham momentos de alegria, permitindo que coloquem para fora emoções através do canto. A iniciativa da Santa Casa de Resende é um exemplo do acolhimento e da humanização que definem o que é ser filantrópico. Assistir aos vídeos do projeto faz qualquer um se emocionar. A equipe canta, dança, encena, se diverte e os pacientes cantam junto, acompanham as coreografias, se emocionam e batem palmas para a vida.
Antes de iniciar o dia, Fábio junto com a psicóloga Daniele Landin e a assistente social Anita Kebec, buscam informações sobre os pacientes: datas especiais, estado de humor e procedimentos realizados. Depois disso, vão de leito em leito conversando com cada um e deixando o paciente à vontade para escolher a música que quer ouvir. O repertório da equipe é enorme e os pedidos vão desde canções religiosas, até MPB, sertanejo, rock e canções infantis para lembrar dos filhos. Entre as músicas mais pedidas estão “Dias Melhores”, do Jota Quest; Aleluia, na versão de Leonard Cohen; e Anunciação, de Alceu Valença.
“Já conseguimos observar os resultados no próprio leito, quando um paciente em cuidados paliativos, abre seus olhos e encontra forças para cantar, balançar as mãos e interagir com a gente. Conseguimos ver pacientes que antes se isolavam, eram mais apáticos e depressivos, animados em participar deste momento, ajudando a escolher canções e até pensando em como será o próximo encontro. Percebemos pacientes internados há muito tempo, tendo uma melhora no estado de humor, com mais energia e com menos crises de ansiedade. Nosso trabalho é oferecer doses medicamentosas de afeto e alegria”, descreve o músico.
A ideia é que o “Cantar e Cuidar” seja um projeto permanente na Santa Casa de Resende. O diretor da instituição, Luiz Eduardo Saldanha, é um dos maiores incentivadores da iniciativa:
“Eu busco trabalhar muito sobre a questão do bem estar dos pacientes e funcionários, e li sobre o serviço de musicoterapia o tratamento de pacientes na UTI. Então vinha tentando implantar o serviço no hospital algum tempo e conseguimos recentemente. Desde então a gente que reduziu melhor o nível de estresse, medo, ansiedade, pois a música acalma esses pacientes e funcionários, traz um momento de relaxamento. Temos percebido um grande diferencial na vida das pessoas envolvidas”, conta o gestor.
Além do Fábio Monteiro, da Daniele Landin, da Anita Kebec e do diretor do hospital, o projeto conta com a dedicação e entrega das enfermeiras Sheila Tavares e Clarisse Lages; do motorista hospitalar, Sebastião Nunes; e da Thayane Absalão, que trabalha na ouvidoria da Santa Casa.
A pandemia e seus anjos
O músico Fábio Monteiro, de 41 anos, vive de música desde os 15. Ele trabalhava na Casa de Cultura Macedo Miranda, em Resende, onde foi diretor e coordenador de projetos. Com o início da pandemia, a Casa de Cultura lançou o projeto “Dias Melhores”, em que os músicos da fundação iam até unidades de saúde e outros locais de serviços essenciais, para homenagear os profissionais que bravamente trabalhavam em meio ao medo e às incertezas.
A iniciativa levou música e alegria para os médicos, enfermeiros e demais funcionários da UPA de Resende, da Santa Casa e do Hospital Municipal de Emergência Henrique Sérgio Gregori. Também foram feitas apresentações no Hospital Veterinário da cidade e na Guarda Municipal. Com a paralisação das atividades culturais, Fábio Monteiro se ofereceu para começar a trabalhar na área da saúde. Há cerca de quatro meses, foi alocado na recepção do Hospital da Criança Albert Sabin, que é parte do Hospital Municipal de Emergência, referência no tratamento da Covid-19.
Vendo a tensão e o drama dos profissionais que atuavam na linha de frente no combate à Covid-19, Fábio se inspirou no projeto “Dias Melhores” e aproveitou toda a experiência dele na música para incluí-la na rotina do hospital. O músico começou então a cantar para pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva e nas enfermarias dedicadas à Covid-19, acompanhado de três psicólogas, seguindo todos os protocolos de segurança.
“A gente toca no CTI, onde os pacientes estão intubados. Quando os pacientes acordam, muitos deles lembram da minha voz, do que eu cantava, do que eu falava. A música tem uma força inacreditável”, conta Fábio, que também faz muita festa para comemorar as altas dos pacientes que se curam da doença e conseguem voltar para casa.
Hoje, todas as segundas e quintas, Fábio canta no Hospital de Emergência, seja para os pacientes ou para homenagear grupos muitas vezes “esquecidos”, como o pessoal da limpeza e da cozinha. O projeto “Cantar e Cuidar” da Santa Casa de Resende foi inspirado nessa iniciativa de Fábio no Hospital Henrique Sérgio Gregori, já que os pacientes que tiveram coronavírus e foram curados da infecção, muitas vezes seguem para a Santa Casa, para fazer o acompanhamento pós-Covid.
“A música diminui níveis de ansiedade, melhora humor e a socialização, libera serotonina, ajuda na respiração, na autoestima e a extravasar emoções que algumas vezes ficam reprimidas durante esse momento de maior vulnerabilidade e fragilidade indivíduo”, explicou Fábio Monteiro.
Com a formação de uma equipe de humanização própria, a Santa Casa de Resende tem conseguido levar alegria, brincadeira, dança, música e descontração para os todos os pacientes do hospital, aproximando os pacientes e humanizando o trabalho. Iniciativas como essa, são possíveis graças a pessoas como o Fábio, verdadeiros anjos, que mesmo diante dos riscos, em meio a pandemia escolhem dedicar a vida a ajudar ao próximo. A Femerj parabeniza ao Fábio pela coragem, empatia e solidariedade; e também à Santa Casa de Resende, nossa afiliada, pelo lindo projeto.