Campanha conscientiza população sobre importância da amamentação e da doação de leite humano. Não é preciso ter produção de leite em excesso para doar. Você pode ajudar a salvar vidas!
Natália Oliveira (Fontes: https://rblh.fiocruz.br e https://www.saude.rj.gov.br/)
O mês de agosto é conhecido em todo mundo pelas ações de conscientização sobre a importância da amamentação. O chamado Agosto Dourado estimula o aleitamento materno como única forma de alimentação dos bebês até os seis meses, e que criança seja amamentada até os dois anos ou mais. Falamos sobre isso na matéria publicada no início do mês sobre a Semana Mundial de Aleitamento Materno. Mas a campanha do Agosto Dourado vai além e trata de um tema tão importante para as mães, quando amamentar os filhos: a doação de leite materno.
O Brasil apresenta uma alta taxa de prematuridade, cerca de 11,5 %. Isso significa que em média 330 mil bebês nascem prematuros por ano. A morte de recém nascidos tem causas variadas, mas uma delas é a enterocolite necrosante: uma inflamação intestinal que tem como causa o peso reduzido dos bebês, abaixo de 1,5 kg. De acordo com especialistas, essa grave complicação perinatal pode ser reduzida em 58% com a administração de leite materno.
Muitas mães de recém nascidos apresentam dificuldade para amamentar por causa da imaturidade fisiológica dos bebês que nascem prematuros. É aí que a doações de leite materno aos Bancos de Leite Humano se tornam imprescindíveis. Cada litro de leite materno doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. A depender do peso do prematuro, 1 ml já é o suficiente para nutri-lo cada vez que for alimentado. É importante ressaltar que os benefícios do aleitamento para a saúde da mulher e da criança vão além do período da amamentação, sendo determinante para redução da mortalidade infantil e da susceptibilidade da criança à obesidade, doenças crônicas, alergias, asma e outras doenças respiratórias.
Veja no vídeo, histórias de mães que doaram e receberam doações de leite humano. Clique aqui.
A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz, é a maior e mais complexa rede de bancos de leite do mundo. O modelo brasileiro para Bancos de Leite Humano (BLH) é referência internacional e, desde 2005, o país exporta técnicas de baixo custo para implementar BLHs na América Latina, Caribe Hispânico, África, Península Ibérica e outros países.
A doação de leite humano passa pelo processo de coleta, processamento e distribuição do leite para bebês prematuros internados de baixo peso e com patologias, principalmente do trato gastrointestinal, que não podem ser alimentados diretamente pelas próprias mães. Todo o leite doado é analisado, pasteurizado e submetido a um rigoroso controle de qualidade antes de ser ofertado a uma criança, conforme rege a legislação que regulamenta o funcionamento dos bancos de leite humano no Brasil.
Quem pode doar?
Toda mulher que amamenta é uma possível doadora. Basta estar saudável, sem sintomas de infecção e não tomar medicamentos que interfiram na amamentação.
Algumas mulheres quando estão amamentando produzem um volume de leite maior que a necessidade do bebê. a produção excessiva de leite materno está entre as frequentes reclamações das mães, que acabam sentindo desconforto ou até dor nas mamas. Neste caso, doar além de salvar vidas, acaba sendo bom para as mulheres e deixando a ato de amamentar mais prazeroso. Cada litro de leite doado pode alimentar até 10 recém nascidos.
É importante ressaltar que não é necessário ter uma produção excessiva para doar o leite materno. Primeiramente, porque não existe quantidade mínima de leite para doação e segundo porque a produção de leite “obedece à lei da demanda”: quanto mais se amamenta, ou o leite é retirado, mais leite é produzido. Ou seja, doar não fará com que falte leite para as mães amamentarem seus próprios filhos.
Onde e Como doar?
Há duas formas de doar: indo até um Banco de Leite Humano próximo a você ou solicitando que uma equipe de coleta vá até a sua casa.
Confira os endereços e contatos dos BLHs aqui.
O banco faz um cadastro da doadora com dados pessoais, informações sobre pré-natal e sobre a rotina da doadora. A equipe de coleta ensina à mãe doadora como coletar o leite e disponibiliza materiais como gorro, máscara, etiquetas e frascos de vidro esterilizados com tampa plástica, onde o leite doado será armazenado. Todo transporte é realizado em caixas isotérmicas, com gelo reciclável e controle de temperatura, mantendo assim a qualidade do leite.
O primeiro passo para se tornar uma doadora é entrar em contato com um Banco de Leite Humano, tendo em mãos os últimos exames realizados no pré-natal. Um médico avaliará os dados e uma vez considerada apta como doadora, a equipe entrará em contato para combinar como será feita a doação. A doadora receberá a visita da equipe de coleta pelo menos uma vez por semana, quando serão recolhidos os frascos cheios e entregues novos frascos esterilizados vazios.
O leite extraído deve ser armazenado em potes de vidro com tampa plástica e pode ficar no freezer ou no congelador por até 10 dias. Não há uma quantidade mínima para ser doada e a mulher pode realizar o procedimento quantas vezes quiser em sua fase de amamentação.
Saiba mais sobre como doar, aqui.
BHL do RJ manteve média de doações mesmo na pandemia
Apesar pandemia do novo coronavírus, as doações aos Bancos de Leite Humano (BHL) vinculados à Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro se mantiveram na média de anos anteriores. De janeiro a julho, foram doados mais de 450 litros de leite por 408 doadoras do Hospital Estadual da Mulher (HMulher) e 221 doadoras do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN). O leite doado este ano foi distribuídos para 518 bebês. Para a SES a marca só foi alcançada devido à estrutura de coleta domiciliar ofertada pelas duas unidades de saúde, que busca o leite a ser doado na residência das mães cadastradas.
Segundo a SES, ao todo este ano foram feitos 10.952 atendimentos pelas equipes desses dois hospitais, sendo 865 visitas domiciliares. Com isso, segundo a Secretaria, mesmo com as medidas de isolamento social, comparando 2019 e 2020, a rede de Banco de Leite Humano de todo o estado teve um aumento de 20% nas doações. É bom reforçar que o novo coronavírus não é transmitido pelo leite materno e que os BLH estão adotando todo o protocolo de biossegurança para evitar a transmissão do vírus pelas vias respiratórias ou contato com superfícies contaminadas. Mulheres apresentando sintomas gripais ou que tiveram contato com pessoas suspeitas de Covid-19, por exemplo, estiveram impedidas de realizar doações por quinze dias. Todos os frascos de leite recebidos pelos BLH estão passando por processos de higienização e verificação da integridade da embalagem.
“Independentemente das circunstâncias, bebês que dependem de leite doado não podem esperar. Fazermos a busca ativa pelas doações, mesmo durante a pandemia, foi decisivo para continuarmos a salvar vidas”, afirmou o secretário estadual de saúde, Alex Bousquet.